terça-feira, 9 de novembro de 2010

Em Mosqueiro, Construções do século passado estão caindo

Casarões históricos viram ruínas na ilha

Edição de 07/11/2010
Amazônia Jornal
Edição:ANO X - Nº 3.849 Belém, Terça, 09/11/2010


Em Mosqueiro, Construções do século passado estão caindo

Noely Lima

Da Redação

Casarões e chalés históricos do distrito de Mosqueiro passam por um triste processo de degradação. Sofrendo com a ação do tempo, os casarões da ilha estão em estado de abandono e servindo de abrigo para a marginalidade da área. Um dos casos que mais choca os que se preocupam com a preservação do rico conjunto arquitetônico da ilha é o caso do antigo educandário Nazareno, localizado na orla da avenida Beira Mar, próximo à praia do Bispo.

A ação do tempo, aliada ao abandono do poder público, transformou o espaço em um dos maiores exemplos do descaso com o patrimônio histórico na ilha. Com as paredes rachadas e a estrutura do telhado toda comprometida, o prédio ainda preserva o brasão da Prefeitura Municipal de Belém, que o identifica como um prédio público. Tamanho o abandono do imóvel, que a edificação está sustentada apenas por troncos de árvores que cresceram no interior do casarão. "Pelo menos não corre o risco de desabar, pois os troncos das árvores estão segurando o prédio. Hoje a área externa do imóvel serve para o pasto, pois tem sempre um cavalo amarrado na área. Recordo do período em que essa área era ocupada pelos estudantes do educandário. É uma situação lamentável e muito triste", declarou o comerciante Mário Augusto Costa, que reside há 30 anos na ilha.

Nascido e criado na ilha de Mosqueiro, o morador Edmilson Macedo dos Santos lamenta o abandono em que se encontra o antigo educandário. "Este imóvel faz parte da minha história, pois estudei e morei neste prédio na época em que ele abrigava o educandário das freiras. Depois que a irmã responsável pelo colégio faleceu, os estudantes tiveram que deixar o local. Vejo este abandono com muita tristeza, pois é um patrimônio que guarda parte da história de Mosqueiro", declarou o morador, enquanto observava o que restou da estrutura do prédio. Segundo ele, o casarão está abandonado há mais de 20 anos e hoje serve como abrigo de marginais. "É uma situação lamentável, pois o prédio poderia ser revitalizado para abrigar uma biblioteca pública. É um espaço excelente e bem localizado e seria o local ideal para o projeto de uma biblioteca pública ou outro espaço cultural. Seria uma forma de preservar o patrimônio histórico e beneficiar os moradores da ilha, que ganhariam um espaço de leitura", argumentou o morador.

De acordo com Ana Esmeralda Medeiros, diretora da biblioteca Avertano Rocha, o casarão do educandário está destinado para a construção de uma biblioteca. "O projeto existe e estamos em fase de finalização. O repasse ao município já foi feito e a construtora responsável pela obra já foi escolhida. A expectativa é de que no início de dezembro a obra comece. A intenção é a de entregar o espaço pronto até março de 2011", afirmou Esmeralda.

Localizado na orla da praia do Porto Arthur, o casarão Briconly ainda se mantém em pé, apesar do adiantado estado de degradação. A estrutura original do imóvel datado da primeira metade do século XX já começa a ruir. Impossível passar indiferente à arquitetura do chalé, já que o casarão fica localizado na orla da avenida Beira Mar. "É o retrato da falta de vontade do poder público municipal, pois a revitalização do patrimônio arquitetônico de Mosqueiro é dever do município, já que esta ilha é um distrito de Belém", observou a aposentada Ana Amélia Santos, que reside há 50 anos na praia do Murubira.

"Manter um prédio histórico não é fácil"

Um paraíso arquitetônico localizado às margens da quase desconhecida praia do Bispo. O Canto do Sabiá é um dos mais importantes casarões no centro histórico de Mosqueiro. Construído no início do século XX em estilo germânico, o casarão até hoje conserva o amarelo das paredes e o verde das grades. Em meio ao amarelo desbotado das paredes e outras relíquias, uma velha escadinha de madeira leva diretamente ao rio. "Esse imóvel pertenceu ao meu avô, que passou ao meu pai e hoje estou tentando preservá-lo. Cheguei a morar aqui, mas depois me mudei para Belém com a família. Atualmente, minha sogra está residindo no local", declarou Andreas Krueger, proprietário do imóvel. Segundo ele, a falta de recursos financeiros é um dos principais entraves na preservação do patrimônio. "Manter um prédio histórico como este não é nada fácil, pois os custos são altos, já que não podemos fazer modificações na estrutura externa. O material original utilizado na construção é caro, pois se trata de um imóvel de origem alemã. Apesar de todas as dificuldades, estou tentando buscar apoio para preservar o espaço. Confesso que as dificuldades existem, mas já conseguimos algumas parcerias, como com a PMB, que está fazendo uma limpeza em toda a área de jardinagem do casarão", comentou Krueger.

Os danos causados pelo intenso tráfego de veículos no entorno do imóvel também foi destacado pelo proprietário como um ponto negativo. "O impacto na estrutura do prédio é inevitável, pois o Canto do Sabiá fica localizado justamente no final da rua Nossa Senhora do Ó, que é uma via com fluxo de veículos intenso em direção à vila. Não há dúvidas de que o tráfego de veículos pesados vem abalando o casarão, pois se trata de uma estrutura com mais de 100 anos", relatou.

Restauração passa pelas três esferas

A maioria das edificações data da primeira metade do século XX, com modelos copiados da França, Alemanha, Suíça e Bélgica. Grande parte dos chalés está concentrada na orla das praias do Chapéu Virado, Farol e Murubira.

Mas o abandono dos casarões não é um problema encontrado apenas na orla da avenida Beira Mar. Na esquina da rua Coronel José do Ó com a travessa Pratiquara, na Vila de Mosqueiro, um casarão em ruínas chama a atenção.

A estrutura do prédio ainda preserva os azulejos portugueses, escondidas entre o mato e o lixo que toma conta do interior do prédio. "Há vários objetos roubados escondidos aí dentro, pois os bandidos utilizam este espaço para guardar roubo", declarou o açougueiro Milton Amaral, que reside próximo ao casarão. "Lembro da época em que este imóvel ainda possuía moradores. Não sei o motivo do abandono, pois é um prédio que poderia ser recuperado para servir de moradia ou até mesmo para abrigar um comércio", completou o açougueiro.

De acordo com a assessoria de comunicação da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), a restauração dos casarões e chalés privados de Mosqueiro é de competência dos proprietários dos imóveis. Segundo a assessoria, para fazer qualquer obra nos casarões é necessário que o proprietário encaminhe projetos ao Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) das três esferas, federal, estadual e municipal.

A prefeitura de Belém faz uma análise prévia do projeto e acompanha as intervenções feitas pelo proprietário. A maior preocupação é a de preservar a estrutura original do prédio.

Estudantes capturam a beleza arquitetônica em fotografias

A preservação do patrimônio arquitetônico do distrito motivou os estudantes do curso de Artes Visuais da Universidade da Amazônia (Unama). Em um exercício fotográfico, os universitários não conseguiram permanecer indiferentes à beleza do lugar e registraram imagens dos antigos casarões. O trabalho resultou em uma mostra fotográfica denominada "Primeiro Canto do Sabiá: olhares sobre a Ilha", montada no jardim do casarão, com projeções de vídeos, animações e um foto varal. O trabalho foi orientado pelo fotógrafo Mariano Klautau Filho, professor da disciplina Fotografia. "O patrimônio arquitetônico de Mosqueiro é muito rico, com casarões, chalés e prédios históricos. Acompanhar a destruição desse patrimônio e não fazer nada é algo criminoso. Cada um desses casarões possui uma história, por isso é lamentável todo esse abandono. A revitalização desses prédios é a recuperação da memória do patrimônio desse distrito", declarou Mariano. Os estudantes Patrícia Gondim e Aurélio Homobomo destacaram a importância do trabalho fotográfico nos casarões da ilha. "A cada momento vamos reunir uma exposição ocupação, pois é uma forma de chamar a atenção tanto dos moradores do local como do poder público municipal. A mostra semelhante ao que foi feita no Canto do Sabiá será levada a outros casarões", afirmou a jovem.

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