sábado, 14 de agosto de 2010

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Um pedaço da Europa na Amazônia

Foto: JCSOliveira

Um pedaço da Europa na Amazônia


Construídos para serem recantos paradisíacos de férias, os casarões Mosqueirenses são um marco na história paraense.

Na passagem do século XIX para o século XX a Europa seguia frenética o curso do desenvolvimento industrial. Em Belém do Pará, os barões da borracha pareciam respirar os mesmos ares europeus, proporcionando à capital paraense uma época de luxo, ostentação e busca pela modernidade. Outros centros urbanos da Amazônia também viveram esses períodos de progresso nos anos de apogeu da borracha, entre1880 e 1912. Mas, no Pará essa euforia trouxe desdobramentos para a ilha de Mosqueiro, conhecida, até então, por auxiliar no abastecimento de Belém. Os impactos em Mosqueiro chegaram nas bagagens dos europeus. Eles aportaram na Amazônia para trabalhar na urbanização de Belém e de outras capitais da região. De acordo com o historiador Augusto Meira Filho, autor do livro "Mosqueiro Ilhas e Vilas", esses estrangeiros descobriram rara beleza no arquipélago. O clima já exótico da região foi acentuado pela visão das praias de água doce. A ilha tornou-se o local predileto para os Lochard, os Ponted, os Smith, os Upton, os Kaulfuss, os Arouch, além de outras famílias. No princípio, elas utilizavam embarcações particulares para chegar à ilha e, posteriormente, com a implantação de uma linha regular de transporte fluvial, no começo do século XX, construíram residências para passarem os finais de semana. Famílias abastadas de Belém logo aderiram ao movimento.

Casarões – Nesse período, alguns proprietários de residências na orla construíram trapiches particulares. Assim surgiu a denominação "Porto-chalé", como o "Porto Artur" e "Porto Franco". As encomendas chegavam com mais conforto às residências. Os próprios pescadores da ilha iam vender peixes na porta das casas, antes mesmo de seguir para o mercado.


Para o professor da Universidade Federal do Pará – UFPA e arquiteto, Milton Monte, estudioso da arquitetura daquela região e apaixonado confesso pela ilha, os casarões da orla mosqueirense representam raros exemplares arquitetônicos. Os prédios foram construídos mesclando estilos europeus com a realidade climática local, tendo porões habitáveis ou não, feitos em função da salubridade e ventilação. Monte, que apresentou como trabalho de conclusão de curso em arquitetura uma tese sobre a edificação dessas casas em Mosqueiro, lembra que a construção de casarões por europeus aconteceu em vários pontos da Amazônia. Em Icoaraci, também distrito de Belém, há construções similares, como o chalé da família Cardoso. Milton, acreano e autor do projeto do pórtico da entrada de Mosqueiro, conta que, no estado onde nasceu, é possível identifica-las, mas em menos escala. Entretanto, para ele, isso não minimiza a importância histórica e arquitetônica das edificações na ilha. Apesar de terem sido construídas em outros pontos da região, a ilha é o local com maior número de casarões e, por isso, apresenta maior diversificação. Dessa forma, a arquitetura se torna singular entre estilos tão distintos. O chalé Canto do Sabiá, por exemplo, recebeu influência da arquitetura eclética alemã. Em outros casos, é mais difícil fazer essa identificação de estilos, como o chalé Porto Arthur. Apesar desse movimento de veraneio ter aumentado expressivamente com a chegada dos europeus à ilha, há quem defenda que na primeira metade do século XIX, o Pará apresentava propriedades rurais com características observadas nos casarões de Mosqueiro.

*Eduardo Brandão é escritor, pesquisador e professor da UFPA. Dedica-se há mais de 10 anos à pesquisa de ilhas próximas à Belém. A fonte deste texto é a edição inaugural da revista "Ilhas Amazônicas"/Janeiro 2006.